sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A MULHER E O PASSAPORTE

Não é novidade que o Brasil é um país machista. Todas as semanas, na mídia, nos deparamos com manchetes relativas a estupros, violência física ou assassinatos de mulheres, geralmente executadas por homens próximos às vitimas (maridos, pais, namorados etc). O homem brasileiro é um perigo para a mulher, comprovam a existência de mecanismos de proteção da mulher, tais como a Lei Maria da Penha ou as Delegacias para Mulheres.

Ainda para muitos homens, a mulher foi criada para o seu deleite, colocada à sua disposição, cabendo-lhe servi-lo, cuidando-o e satisfazendo-o. Não se trata, pois, de uma companheira ou parceira, mas de uma pessoa que está abaixo do seu status de “senhor”. Inegavelmente é uma realidade em significativa mudança, decorrente de ferrenhas lutas, em especial das feministas e organizações pró-mulheres, apesar de alguns focos de resistência, tais como a política (Dilma é uma feliz exceção), o futebol (quantas partidas de futebol feminino são transmitidas pela Globo ?) e....o naturismo brasileiro.

A prática do naturismo no Brasil tem como adeptos um contingente masculino superior a participação feminina, numa dimensão bastante considerável. Por razões históricas e relativas ao próprio gênero feminino, a mulher demonstra uma resistência em desnudar-se socialmente, e por consequência, em aderir ao nudismo. Fenômeno que, salvo engano, se repete em todos os países.

Daí que, sob o discurso de que um grande número de homens desacompanhados,  em grupos e ambientes naturistas, constrange e inibe o envolvimento de mulheres com o naturismo, a maioria de grupos e ambientes naturistas simplesmente proíbem ou controlam o acesso de homens que não estejam acompanhados de uma mulher.

Trata-se de uma grande falácia. Entendo que, encoberta neste discurso, temos uma atitude extremamente machista, tais como “se você não me traz uma mulher para que eu a veja nua, você também não poderá ver a minha mulher nua”. Claro que ninguém coloca esta ideia explicitamente, preferindo, logicamente, recorrer a inúmeros argumentos que “justificam” tal proibição. Mas por que é uma falácia ?

a)    Quantas mulheres foram consultadas a respeito desta “regra” ? O que elas dizem sobre a mesma ? Será que elas “precisam” desta “proteção” ?

Pelo que me consta, Luz Del Fuego estava muito pouco preocupada se a maioria dos frequentadores de sua ilha era homem ou mulher. O que importava era que estivessem nus/nuas e respeitassem as demais pessoas.

b)    Me parece que Maria Luzia, Glacy, Karina e outras tantas naturistas anônimas, por si só se fazem respeitar, sem dependerem da “guarda” masculina, assumindo intensamente o naturismo.

c)    Por exemplo, a praia de Abricó é democraticamente liberadab para homens sem companhia feminina, e não há registro de invasão em massa de homens ou o constrangimento habitual das mulheres.

No lugar de se fazer uma campanha educativa na tentativa de atrair as mulheres, o naturismo brasileiro buscar o crescimento através da repressão aos homens. Não interessa se a mulher que o acompanha seja  esposa, amiga ou prostituta (bem familiar!). O que importa que sem uma companhia feminina (seu passaporte), o mais autêntico naturista não entra. Isto é o mais puro machismo!

5 comentários:

  1. Não sei quem assina esta postagem, mas quero dizer que concordo em gênero, número e gráu com o exposto. Naturismo, antes mesmo da nudez social, implica exercício de abolição de preconceitos. Só uma pessoa que exercita abrir sua mente e coração para evitar conduzir-se por preconceitos pode intitular-se naturista. Qualquer outra tendência será contrária aos princípios do que possa ser Naturismo.
    Infelizmente, a maior parte dos "donos da verdade" em nosso meio vão seguir insistindo em exigir que para ser naturista têm-se que pendurar nosso natural instinto sexual no armário, junto com as roupas que deixamos para trás ao ingressar numa área naturista.
    Este temor do instinto sexual não nos tornaria melhores pessoas. É preciso encarar este instinto de frente para crescermos enquanto civilização.
    Homens e mulheres são tão iguais quanto diferentes. Nossas diferenças nos completam, integram, harmonizam; nossas semelhanças nos humanizam.
    Discriminar homens sem acompanhantes femininas é o mesmo que discriminar pessoas por qualquer outro motivo.
    Seres humanos não devem ser rotulados. Afinal, não há rótulos que definam e isolem estes indivíduos. Entre os naturistas, há homens, mulheres, homossexuais, bissexuais, assexuados, crianças, gremistas, flamenguistas, corinthianos, petistas, peemedebistas, pobres, remediados, ricos, ateus, crentes, católicos, espíritas, umbandistas, suingueiros, puritanos, cantores, desafinados, mangueirenses e portelenses. A única coisa que têm em comum é o desejo de estar em harmonia com sua naturalidade e respeitar as convicções uns dos outros, mesmo que discutam, melhor até se discutem, pois a discussão inteligente é a base do desenvolvimento humano.
    Sempre que você encontrar um(a) pelado(a) que insista em proibir a presença de outros seres humanos em seu meio, baseando-se em qualquer parâmetro, saiba que ali está apenas um nudista, a quem também devemos aceitar e respeitar, desde que não nos venha impor regras que não a própria ética humana.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Roberto

    Meu nome é Nilton, moro em Aracaju/SE.

    ResponderExcluir
  3. Sem questionar ou concordar com essas proibições deixo o registro: 90% dos frequentadores do Abricó são do sexo masculino (estatística contabilizada).
    Todas as vezes que vi um grupo de mais de duas mulheres entrarem sozinhas no Abricó, tiveram sua visita importunada por olhares e aproximações incompatíveis com o bom senso de quem gostaria que qualquer mulher ali frequentasse.E várias já comentaram com amigas que nunca mais voltariam em função da falta de respeito.
    Até que o homem brasileiro deixe de se comportar como predador, não haverá clima de espontaneidade para mulheres frequentarem sozinhas. Levo minha esposa, mas precisamos ser muito pacientes com olhares importunos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Tem razão William, chega a ser constrangedor a situação e envergonha os verdadeiros homens naturistas que ali estão. A palavra foi corretamente usada: "Predadores famintos que nunca virão uma mulher" (Detalhe - muitas das vezes elas nem chegam a tirar a roupa, não dá tempo).

      Excluir