domingo, 23 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL, FELIZ ANO NOVO


Que...

 
 A Paz, não seja guerreada.

O amor, não seja desamado.

A intolerância, não seja tolerada,

A fé, não seja desacreditada.

A liberdade, não seja aprisionada.

O dialogo, não seja calado

A justiça não seja injusta

O preconceito, seja discriminado

E haja discriminação do preconceito

....e que a nudez não seja coberta.

 

Por um mundo fraterno, livre e partilhado, onde a nudez seja uma opção e não uma condição.

 

Abraços,

sábado, 6 de outubro de 2012

O animal que logo sou

Não resisti a tentação de publicar esta passagem do texto de Derrida.


              O animal que logo sou

Jacques Derrida

(EDITORA DA UNESP – 2002)

 

Freqüentemente me pergunto, para ver, quem sou eu - e quem sou eu no momento em que, surpreendido nu, em silêncio, pelo olhar de um animal, por exemplo os olhos de um gato, tenho dificuldade, sim, dificuldade de vencer um incômodo.
Por que essa dificuldade?
Tenho dificuldade de reprimir um movimento de pudor. Dificuldade de calar em mim um protesto contra a indecência. Contra o mal-estar que pode haver em encontrar-se nu, o sexo exposto, nu diante de um gato que nos observa sem se mexer, apenas para ver. Mal-estar de um tal animal nu diante de outro animal, assim, poder-se-ia dizer uma espécie de animal-estar: a experiência original, única e incomparável deste malestar que haveria em aparecer verdadeiramente nu, diante do olhar insistente do animal, um olhar benevolente ou impiedoso, surpreso ou que reconhece. Um olhar de vidente, de visionário ou de cego extralúcido. É como se eu tivesse vergonha, então, nu diante do gato, mas também vergonha de ter vergonha. Reflexão da vergonha, espelho de uma vergonha envergonhada dela mesma, de uma vergonha ao mesmo tempo especular, injustificável e inconfessável. No centro ótico de uma tal reflexão se encontraria a coisa - e aos meus olhos o foco dessa experiência incomparável que se chama nudez. E que se acredita ser o próprio do homem, quer dizer, estranha aos animais, nus como são, pensamos então, sem a menor consciência de sê-lo.
Vergonha de quê, e nu diante de quem? Por que se deixar invadir de vergonha? E por que esta vergonha que enrubesce de ter vergonha? Sobretudo, deveria eu precisar, se o gato me observa nu de face, face a face, e se eu estou nu aos olhos do gato que me olha da cabeça aos pés, diria eu, apenas para ver, sem se privar de mergulhar sua vista, para ver, com vistas a ver, em direção ao sexo. Para ver, sem ir lá ver, sem ainda tocar nele, e sem lhe dar uma mordida, embora essa ameaça permaneça à flor dos lábios ou na ponta da língua. Acontece aí alguma coisa que não deveria ocorrer - como tudo que ocorre, em suma, um lapso, uma queda, uma falha, uma falta, um sintoma (e sintoma, vocês sabem, quer dizer também a queda: o caso, o acontecimento infeliz, a coincidência, o fim do prazo, a má sorte). É como se, há pouco, eu tivesse dito ou fosse dizer o interdito, alguma coisa que não se deveriadizer. Como se por um sintoma eu confessasse o inconfessável e, como se diz, eu tivesse querido morder minha língua.
Vergonha de quê, e diante de quem? Vergonha de estar nu como um animal. Acredita-se geralmente, mas nenhum dos filósofos que vou questionar daqui a pouco menciona isso, que o próprio dos animais, e aquilo que os distingue em última instância do homem, é estarem nus sem o saber. Logo, o fato de não estarem nus, de não terem o saber de sua nudez, a consciência do bem e do mal, em suma.
Assim, nus sem o saber, os animais não estariam, em verdade, nus. Eles não estariam nus porque eles são nus. Em princípio, excetuando-se o homem, nenhum animal jamais imaginou se vestir. O vestuário seria o próprio do homem, um dos "próprios" do homem. O "vestir-se" seria inseparável de todas as outras figuras do "próprio elo homem", mesmo que se fale menos disso do que da palavra ou da razão, do logos, da história, do rir, do luto, da sepultura, do dom etc. (A lista dos "próprios do homem" forma sempre uma configuração, desde o primeiro instante. Por essa mesma razão, ela não se limita nunca a um só traço e não é nunca completa: estruturalmente, ela pode imantar um número não finito de outros conceitos, a começar pelo conceito de conceito.)
O animal, portanto, não está nu porque ele é nu. Ele não tem o sentimento de sua nudez. Não há nudez "na natureza". Existe apenas o sentimento, o afeto, a experiência (consciente ou inconsciente) de existir na nudez. Por ele ser nu, sem existir na nudez, o animal não se sente nem se vê nu. Assim, ele não está nu. Ao menos é o que se pensa. Para o homem seria o contrário, e o vestuário responde a uma técnica. Nós teríamos então de pensar juntos, como um mesmo "tema", o pudor e a técnica. E o mal e a história, e o trabalho, e tantas outras coisas que o acompanham. O homem seria o único a inventar-se uma vestimenta para esconder seu sexo. Só seria homem ao tornar-se capaz de nudez, ou seja, pudico, ao saber-se pudico porque não está mais nu. E saber-se, seria saber-se pudico. O animal, este, nu por não ter consciência de estar nu, crê-se que permaneceria tão alheio ao pudor quanto ao impudor. E ao saber de si que isso implica.
O que é o pudor se só se pode ser pudico permanecendo impudico, e reciprocamente? O homem não seria nunca mais nu porque ele tem o sentido da nudez, ou seja, o pudor ou a vergonha. O animal estaria na  não-nudez porque nu, e o homem na nudez precisamente lá onde ele não é mais nu. Eis aí uma diferença, eis aí um tempo ou um contratempo entre duas nudezes sem nudez. Esse contratempo está apenas começando a nos incomodar, no que diz respeito à ciência do bem e do mal.
Diante do gato que me olha nu, teria eu vergonha como um animal que não tem o sentido de sua nudez? Ou, ao contrário, vergonha como um homem que guarda o sentido da nudez? Quem sou eu então? Quem é este que eu sou?A quem perguntar, senão ao outro? E talvez ao próprio gato?

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Parabéns, Sergipe!

Sergipe também é naturista. Neste último final de semana a FBrN entregou a Serginat - Associação Sergipana de Naturismo o certificado de filiação, em cerimônia ocorrida em Massarandupió.


Um grande salto para a consolidação do naturismo no menor estado brasileiro. Trata-se de um pequeno grupo que se mostra confiante em fazer de Sergipe um grande estado naturista, onde o naturismo seja respeitado e reconhecido. Com certeza não será fácil, mas a maior dificuldade foi superada: a falta de uma organização em prol desta luta.

Parabéns, Sergipe.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Para o Naturismo crescer ainda mais...


Originalmente publicado no Jornal Olho Nu, edição N° 28 – janeiro de 2003

Escrevo esta mensagem motivado pela reflexão que me ocorreu ao ler, na edição 26 do OLHO NU, duas chamadas da FBrN:

- Tire a roupa e VIVA NU!

- Arrisque e tire a roupa. Você só terá a ganhar!

São duas chamadas contundentes e fortes que estimulam a nudez numa sociedade que se nega, em boa parte, em pelo menos discutir o Naturismo (vide Congresso Nacional), ainda que se leve em conta os inegáveis avanços no que se referem à mídia e oficializações dos espaços naturistas.

Ao ler tais chamadas me ocorreu uma questão: quais as condições reais de vivenciar o Naturismo no Brasil ?

Parece-me que não são tão fáceis, em especial para a grande maioria das pessoas que residem afastadas das áreas ou grupos naturistas, bem como para homens desacompanhados.

Apesar de possuir um extenso litoral e de ter sido povoado, na sua origem, por índios que viviam nus, o brasileiro não vê a nudez como algo natural. A nudez, no Brasil, ainda possui uma relação diretamente proporcional com o sexo e o erotismo. Tal cultura se deve a influência determinante da religião que durante séculos ditou o modo de ser e agir dos seus fiéis, em especial no que diz respeito ao comportamento sexual. Deve-se levar em conta também, o peculiar machismo do brasileiro que sempre viu a mulher como objeto de prazer.

A partir dos anos 70, com a abertura política este quadro começa a alterar-se, mesmo que lentamente, possibilitando que soprassem novos ares, e assim idéias, antes inaceitáveis como o nudismo, começam a ganhar espaço, notadamente nos centros com maior intercâmbio com a Europa. Com o advento da internet o naturismo brasileiro ganha novo fôlego, fortificando o movimento.

Mesmo tendo um cenário mais favorável, o naturismo ainda não possui o reconhecimento social, o que gera situações do tipo das ocorridas no Rio de Janeiro e Tambaba (tentativa recente de redução da área naturista) entre outras, obrigando o movimento naturista a um constante embate para afirmação dos seus princípios, como também a adotar uma atitude de maior reserva em relação aos pretendentes ao convívio naturista.

Para não me alongar muito e sem querer ensinar o pai-nosso ao vigário, encerro defendendo duas teses que acredito serem significativas para o crescimento do naturismo no país, juntamente com as demais políticas adotadas pelo movimento:

1) Incentivar a maior participação das mulheres no Movimento

Entendo que a participação feminina é da maior importância, considerando que a adesão de uma pessoa do sexo feminino, GERALMENTE, ocorre agregada com a adesão de outras pessoas (maridos, namorados, irmãos etc.), o que NORMALMENTE não acontece com os homens, que GERALMENTE aderem isoladamente. Acho ainda, que a medida em aumentar a confiança das mulheres a possibilidade de fortalecimento do movimento é maior.

2) Necessidade de maior reflexão e estudos sobre o naturismo

Vejo a necessidade de consolidar um pensamento naturista brasileiro, pois são poucos os trabalhos científicos voltados para o naturismo. A importância de se pensar o Naturismo se dá pela necessidade de sua fundamentação, para fugir do velho bordão de que se é naturista pela “sensação de liberdade”. Temos que pensá-lo do ponto de vista da Psicologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Economia etc, de modo a firmá-lo com segurança na sociedade sem correr os riscos de retrocessos, como temos visto atualmente, pela incompreensão da sociedade.

Saudações naturistas.


terça-feira, 31 de julho de 2012

Sergipe e o Naturismo

Após anos sem sinal de vida, eis que surge em Sergipe um grupo de pessoas interessadas em estruturar o naturismo no estado. É um grupo pequeno, são apenas seis pessoas, por enquanto, que estão conversando e dispostos a fundarem a primeira associação naturista nestas terras.

Acreditamos que em breve Sergipe deverá integrar o Movimento Naturista brasileiro, partindo na frente de grandes estados como Ceará, Pernambuco e Bahia que ainda não conseguiram estruturar um naturismo organizado. Sergipe é um estado pequeno e conservador, com aparentemente poucas pessoas interessadas a empreenderem um projeto naturista, o que não deverá desanimar o grupo, que se mostra disposto em levar em frente a idéia da criação de uma associação naturista alinhada com os princípios do naturismo familiar.

sábado, 9 de junho de 2012

EUREKA! Naturismo e Ciência


Sem dúvida a sociedade contemporânea seria muito diferente se o conhecimento cientifico estivesse ausente da sua construção. A ciência hoje é uma saber imprescindível, “normatizando” em muitos casos nossas vidas, como por exemplo restrição do comportamento de fumar em ambientes fechados.
A Ciência introduz-se em praticamente todos os âmbitos de nossas vidas: familiar, social, sexual, trabalho etc. Busca esquadrinhar a nossa existência, no sentido de desvelar o que ainda não foi descoberto ou compreendido. Justifica esta “intromissão” com o argumento de que o conhecimento dos fenômenos, sejam eles naturais ou sociais, permite-nos enfrenta-los melhor, e em alguns casos, elimina-los.
Para o bem ou para o mal, não podemos ignorar o poder que a ciência acumulou ao longo dos séculos. Se no seu nascimento restringia-se a alguns iniciados ou sociedades secretas, hoje qualquer “mortal” poder ter acesso ao saber cientifico, que a partir da Idade Moderna intensificou a “popularização” das suas descobertas ou conclusões. São vários, atualmente, os meios de divulgação aos quais a Ciência recorre, mas, com certeza, a internet é o principal deles, a ponto de algumas revistas cientificas deixarem de publicarem edições impressas adotando a publicação virtual.
A pesquisa cientifica, fundamento da Ciência, permite-nos desbravar “mundos” ainda poucos conhecidos ou de difícil acesso. Seus resultados nos ajudam a lidar melhor com o mundo que nos cerca, compreendendo-o, transformando-o, afetando-nos também, pois o nosso modo de ser e relacionar-se com a vida, mesmo que muitas vezes não nos demos conta disso, passa pelo filtro da ciência. Se durante séculos nossos modos de existência foram fundados nos valores apregoados pelo Estado e pela Religião, contemporaneamente, tal poder é divido com a Mídia e a Ciência.
Na medida em que entendemos mais a vida e o mundo que nos cerca, nosso quadro de referência se amplia. Se estivermos abertos ao novo, ao diferente daquilo que somos ou pensamos, acontece uma revisão de valores fazendo com que algo que antes nos era estranho ou impensável, naturalize-se em nosso referencial em virtude do salto da ignorância para o saber. Daí o conhecimento cientifico ser importante, não o único, na desconstrução de valores que nos levam ao preconceito, discriminação e a intolerância.
Não é por acaso que os movimentos sociais mais mobilizadores contemporaneamente, além de ações políticas e midiáticas, adentraram no mundo acadêmico, na busca de um campo de debate que lhes possibilitasse a construção de um pensamento consistente, de sustentação ideológica e de reconhecimento público. Isso aconteceu com o movimento feminista, o movimento negro, o movimento homossexual, o movimento ambientalista. Uma rápida pesquisa ao site da CAPES (http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/) nos permite uma visão aproximada do grau de interesse da sociedade por tais questões.
Na busca com os termos “movimento feminista”, movimento negro”, “movimento homossexual”, “movimento ambientalista” obtivemos as seguintes ocorrências em relação a produção de teses e dissertações no pais desde 1987:

Palavra chave
Ocorrências
Movimento ambientalista
1210
Movimento negro
761
Movimento feminista
459
Movimento homossexual
91
                                       Fonte: CAPES – junho/2012

Quando, repetindo o mesmo procedimento, utilizando o temo “movimento naturista”, obtivemos 18 ocorrências, porém nenhuma destas teses/dissertações apresenta como objeto de pesquisa o nudismo, mas se referem às correntes de pensamento nos campos da Arte, Politica etc.
Utilizando variações dos termos, tais como feminismo, homossexualismo e nudismo, temos os seguintes resultados:

Palavra chave
Ocorrências
Feminismo
1370
Homossexualismo
647
Nudismo
0
                                              Fonte: CAPES – junho/2012

Mas, pesquisando mais detalhadamente encontramos quatro trabalhos acadêmicos que apresentam o movimento naturista como objeto de pesquisa, sendo uma tese (doutorado) e três dissertações (mestrado). O primeiro trabalho foi defendido em 1992 e o último em 2009, nas áreas de Antropologia, Ciências Sociais, Antropologia Social e Educação Ambiental, são elas:

Titulo: O nu e o vestido: uma etnografia fa nudez na praia do Pinho (1992)
Título: “Vivendo “nu” paraíso”: comunidade, corpo e amizade na Colina do Sol (2005)
Titulo: “Da Praia aos Poros”: uma etnografia do naturismo na Praia do Abricó/RJ
(2008)
Título: A ética e a estética dos corpos nus: um estudo de caso do naturismo como proposta de educação ambiental (2009)

Comparando tais resultados com temas voltados para questões sociais, a diferença torna-se bem maior:

Palavra chave
Ocorrências
Saúde pública
7835
Violência
6171
                                            Fonte: CAPES – junho/2012

Até a poesia, arte de “menor consumo” entre os brasileiros, apresenta 3.486 ocorrências no banco de teses da CAPES, indicando que um fenômeno não precisar ser popular para chamar a atenção da academia. Por outro lado, os termos swing/troca de casais apresentam o retorno de duas ocorrências. Coincidência, ou não, tanto o nudismo como o swing são práticas que confrontam as regras morais socialmente vigentes.
Tomemos como exemplo a Universidade Federal da Paraiba, com cursos de graduação e pós-graduação em Turismo, Sociologia, História, Psicologia, Antropologia. Produz anualmente dezenas de monografias, dissertações e teses, mesmo tendo seu principal campus localizado em João Pessoa, a apenas 30 km de Tambaba, não desenvolve sequer uma pesquisa a respeito do naturismo, o que seria “natural” tendo em vista Tambaba ser considerada uma praia de nudismo conhecida internacionalmente, recebendo centenas de turistas estrangeiros. Honrosa exceção encontramos em José Wagner, que luta para inserir a questão do naturismo no cotidiano da Universidade, parecendo, no entanto, obter pouco sucesso.
Olhando o outro lado da moeda, os naturistas também não se mostram muito interessados em discussões cientificas ou teóricas sobre o naturismo. Poucos buscam se apropriarem dos estudos e pesquisas relativas ao tema. Luiz Fernando Rojo e Luciana Arraial foram os únicos autores, que tenho conhecimento, que chegaram a discutir seus trabalhos no meio naturista, e pelo que sei, em apenas uma oportunidade cada. Da mesma maneira, dificilmente encontramos disponibilizados tais trabalhos em sites naturistas, nem mesmo na página da FBrN, que deveria ser a maior interessada, exceto com a monografia de João Carlos Lima (Meio Ambiente e Naturismo),  sequer encontramos uma referência sobre textos acadêmicos.
Cris Natal, propôs a criação de um grupo de estudos sobre naturismo/nudismo via net, mas não conseguiu viabilizá-lo em virtude da inexistência de naturistas interessados na proposta, salvo uma ou duas exceções. Lá se vão alguns anos desta única tentativa de inserir a discussão acadêmica no meio naturista, não ocorrendo, que eu saiba, mas nenhuma mobilização neste sentido.  
Penso que ao distanciar-se da Academia, o Movimento Naturista relega ao limbo um importante espaço de reconhecimento social da prática naturista. As trajetórias dos movimentos sociais - feminista, ambientalista, negro, entre outros - reforçam nosso entendimento. Não há porque mantermos tal distância, pelo contrário, o saber cientifico poderá contribuir, e muito, para que a sociedade aceite que só queremos ficar nus.

Angatu!


sexta-feira, 23 de março de 2012

Naturismo: em qual lugar ?

Sergipe é o menor estado da federação, quase imperceptível no mapa do Brasil, espremido entre Bahia e Alagoas. Não é difícil encontrar alguém que desconheça que a sua capital é Aracaju.

Aracaju é agradável, medianamente arborizada, sem poluição, limpa e, frequentemente, ensolarada. Possui bons hotéis, restaurantes com cardápios que atendem a exigentes paladares. Os bares também são bastante frequentados. Carne de sol e caranguejo são tidos como os melhores acompanhamentos para a cervejinha. O caranguejo é tão popular, que temos a “Passarela do Caranguejo”, na qual podemos encontrar também comida japonesa, mexicana e um bom forró. Sua orla talvez seja umas das mais belas do nordeste, com lago, quadra de tênis, restaurantes variados, praças, e diversos locais que oferecem comidas típicas, como macaxeira e beiju. Um aspecto negativo é o trânsito, infernal nas horas de “pico”. Não possui muitos pontos turísticos, mas é uma cidade interessante, incluindo o interior do estado, para se passar uns bons dias.

Não tenho informações de grupos naturistas em Sergipe. Massarandupio-BA é a praia mais próxima, fica na Linha Verde, a aproximadamente 300 km de distância. Julgo que as praias sergipanas não são apropriadas para o naturismo, pois não apresentam a privacidade necessária para a prática. Frequentemente, na net, citam Abais e Pirambu como lugares possíveis de se tomar banho nu, mas acho arriscado. Um ex-prefeito de Canindé do São Francisco, propôs a criação de uma praia de nudismo no município, mais não chegou a realizar nenhuma ação concreta para viabiliza-la. Parece-me que a curto e médio prazos, o naturismo “em Sergipe” só nas terras bahianas.

A questão é: será que existe algum lugar em Sergipe onde se possa praticar o naturismo ?

domingo, 4 de março de 2012

A MULHER

Desde os tempos de Cabral a mulher brasileira é reconhecida como bela e deslumbrante, Caminha em sua carta ao rei de Portugal tece rasgados elogios às índias da nova terra. A natural nudez das índias mexeu com o português, fazendo com que a elas se referisse por diversas vezes.

Se para os portugueses a nudez indígena era digna de espanto, para os nativos consistia num modo espontâneo de encontrar-se no mundo. Não havia motivo para esconder o corpo, visto como uma unidade, sem “partes” vergonhosas ou indignas. Os corpos das índias exibidos nas mesmas condições dos corpos masculinos. As diferenças anatômicas eram compreendidas meramente como tais, sem nenhuma conotação diferenciada que impedisse a nudez tanto dos homens como das mulheres.

Não foi fácil para os portugueses cobrirem os índios, mas conseguiram. Fizeram da nudez, antes vivenciada cotidianamente, um ato abominável, vergonhoso e de grave pecado. Cobrir os corpos, especialmente os genitais, tornou-se uma necessidade, imprescindível para o convívio social, relegando a nudez para a sombra da imoralidade. As roupas passaram a compor a natureza humana. Despir-se em público significa uma regressão da civilização, sinônimo de primitivo.

Esta carga é maior sobre as mulheres, para as quais a nudez é proibida (exceto na mídia) seja porque uma mulher decente não anda nua, seja porque não possui um corpo perfeito para expor. Historicamente a mulher foi coberta, sob o argumento de constituir-se um perigo para o equilíbrio masculino, que poderia perder o controle com a visão da mulher nua. Ou seja, desde Eva que a mulher é responsável pelos descaminhos do homem.

Mas existiram, e existem, mulheres que desafiam tais normas e se desnudam a despeito da suposta “imoralidade” ou da imposição de uma estética opressora e angustiante. Tais mulheres, além de desnudarem seus corpos mostram coragem e determinação. Luz Del Fuego talvez seja o maior exemplo, considerando a época em que viveu e dos riscos que correu por acreditar e viver a nudez em meio a tanta repressão.

Parabéns a todas as mulheres naturistas!

Parabéns as mulheres exploradas, as que são vitimas de violências, as que lutam no dia-a-dia para cuidarem de suas famílias, as enfermas. Parabéns porque apesar dos infortúnios não desistem de acreditar na possibilidade mudança.
Parabéns para todas as mulheres! Santas, pecadoras, belas e guerreiras; por serem no palco da vida estrelas de primeira grandeza.

Que o dia 08 de março ajude aos homens entenderem que um homem só poder ser feliz com uma mulher feliz ao seu lado.  


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A MULHER E O PASSAPORTE

Não é novidade que o Brasil é um país machista. Todas as semanas, na mídia, nos deparamos com manchetes relativas a estupros, violência física ou assassinatos de mulheres, geralmente executadas por homens próximos às vitimas (maridos, pais, namorados etc). O homem brasileiro é um perigo para a mulher, comprovam a existência de mecanismos de proteção da mulher, tais como a Lei Maria da Penha ou as Delegacias para Mulheres.

Ainda para muitos homens, a mulher foi criada para o seu deleite, colocada à sua disposição, cabendo-lhe servi-lo, cuidando-o e satisfazendo-o. Não se trata, pois, de uma companheira ou parceira, mas de uma pessoa que está abaixo do seu status de “senhor”. Inegavelmente é uma realidade em significativa mudança, decorrente de ferrenhas lutas, em especial das feministas e organizações pró-mulheres, apesar de alguns focos de resistência, tais como a política (Dilma é uma feliz exceção), o futebol (quantas partidas de futebol feminino são transmitidas pela Globo ?) e....o naturismo brasileiro.

A prática do naturismo no Brasil tem como adeptos um contingente masculino superior a participação feminina, numa dimensão bastante considerável. Por razões históricas e relativas ao próprio gênero feminino, a mulher demonstra uma resistência em desnudar-se socialmente, e por consequência, em aderir ao nudismo. Fenômeno que, salvo engano, se repete em todos os países.

Daí que, sob o discurso de que um grande número de homens desacompanhados,  em grupos e ambientes naturistas, constrange e inibe o envolvimento de mulheres com o naturismo, a maioria de grupos e ambientes naturistas simplesmente proíbem ou controlam o acesso de homens que não estejam acompanhados de uma mulher.

Trata-se de uma grande falácia. Entendo que, encoberta neste discurso, temos uma atitude extremamente machista, tais como “se você não me traz uma mulher para que eu a veja nua, você também não poderá ver a minha mulher nua”. Claro que ninguém coloca esta ideia explicitamente, preferindo, logicamente, recorrer a inúmeros argumentos que “justificam” tal proibição. Mas por que é uma falácia ?

a)    Quantas mulheres foram consultadas a respeito desta “regra” ? O que elas dizem sobre a mesma ? Será que elas “precisam” desta “proteção” ?

Pelo que me consta, Luz Del Fuego estava muito pouco preocupada se a maioria dos frequentadores de sua ilha era homem ou mulher. O que importava era que estivessem nus/nuas e respeitassem as demais pessoas.

b)    Me parece que Maria Luzia, Glacy, Karina e outras tantas naturistas anônimas, por si só se fazem respeitar, sem dependerem da “guarda” masculina, assumindo intensamente o naturismo.

c)    Por exemplo, a praia de Abricó é democraticamente liberadab para homens sem companhia feminina, e não há registro de invasão em massa de homens ou o constrangimento habitual das mulheres.

No lugar de se fazer uma campanha educativa na tentativa de atrair as mulheres, o naturismo brasileiro buscar o crescimento através da repressão aos homens. Não interessa se a mulher que o acompanha seja  esposa, amiga ou prostituta (bem familiar!). O que importa que sem uma companhia feminina (seu passaporte), o mais autêntico naturista não entra. Isto é o mais puro machismo!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

VÁ ENTENDER…….(A NUDEZ DO BRASILEIRO)

Recentemente a revista Superinteressante lançou um suplemento dedicado a um tipo de turismo dito como bizarro. Não é difícil deduzir que entre tais viagens encontra-se a prática naturista. O site UOL também inclui o naturismo na relação de comportamentos bizarros.


Mas por que a sociedade que se diz civilizada, já no alvorecer do século XXI, ainda não consegue perceber o naturismo como um modo de ser propriamente humano ?

Registre-se que a reação contrária, pelo menos no Brasil, não se dirige a nudez em si mesma, propriamente dita, à nudez das pessoas de um modo geral. Provam, entendo, a liberdade com que os carnavalescos desnudam os foliões nos desfiles das escolas de samba; também, o fato de que ser capa da Playboy é um sonho alimentado por centenas de mulheres, inclusive jovens, algumas delas com irrestrito apoio de suas mães. Temos ainda, a nudez nas novelas, filmes, teatro, propagandas. São âmbitos nos quais a nudez é aceita, e em muitos casos desejada, tida como natural e até mesmo, necessária. A nudez deixou de ser pecado, não é mais considerada um tabu, compondo o cotidiano dos sujeitos, que a percebem já sem espanto.

No entanto, esta aceitação da nudez não vigora irrestritamente. Não é em toda e qualquer situação que os brasileiros vêm o nu com naturalidade, sem enquadra-lo como um ato imoral ou atentado ao pudor. Para nós, brasileiros, a permissão da nudez é dada desde que ocorra no plano da fantasia, lugar próprio da arte, lugar no qual estar nu não afeta a moralidade, a religiosidade, nem a cultura. Trata-se de um mundo a parte, que povoa sonhos e desejos inatingíveis para um imenso contingente de nativos, uma vez que, em virtude de uma series de fatores (cada um com seu impedimento), não se permitem, nem ao outro, a possibilidade da nudez além das tradicionais situações de banho, exame médico e relações sexuais.

Na época do carnaval não é raro acontecer a prisão de estrangeiros em virtude da nudez em público. Para eles é difícil entender a relação ambígua do Brasil com a nudez. Podemos ficar nus em publico no desfile das escolas de samba, no entanto, a simples prática de topless nas praias brasileiras geralmente se transformam em casos de policia. Uma prática perfeitamente aceitável em países não tão “liberais” como o Brasil, mas que ainda enfrenta muita resistência pelas bandas de cá. E o recente caso da aluna da Uniban, que dispensa comentários.

Pode ser até paradoxal afirmar, mas o Brasil é um país liberal em relação a exposição do corpo (desde que não haja o nu total). Basta lembrar que o biquini das brasileiras é o menor do mundo, na verdade mostra mais do que esconde. E o que dizer das capas da Playboy (e de outras revistas masculinas) livremente expostas na bancas de jornais, nas vias públicas, a vista de quem quiser ver. Poucos países apresentam tanta liberdade.

Entendo que na raiz de tal contradição, encontram-se a questão da sexualidade e busca insana pelo corpo perfeito. Mas isto fica para depois.