Originalmente publicado no Jornal Olho Nu, edição N°
28 – janeiro de 2003
Escrevo esta mensagem motivado pela reflexão que me
ocorreu ao ler, na edição 26 do OLHO NU, duas chamadas da FBrN:
- Tire a roupa e VIVA NU!
- Arrisque e tire a roupa. Você só terá a ganhar!
São duas chamadas contundentes e fortes que
estimulam a nudez numa sociedade que se nega, em boa parte, em pelo menos
discutir o Naturismo (vide Congresso Nacional), ainda que se leve em conta os
inegáveis avanços no que se referem à mídia e oficializações dos espaços
naturistas.
Ao ler tais chamadas me ocorreu uma questão: quais
as condições reais de vivenciar o Naturismo no Brasil ?
Parece-me que não são tão fáceis, em especial para
a grande maioria das pessoas que residem afastadas das áreas ou grupos
naturistas, bem como para homens desacompanhados.
Apesar de possuir um extenso litoral e de ter sido
povoado, na sua origem, por índios que viviam nus, o brasileiro não vê a nudez
como algo natural. A nudez, no Brasil, ainda possui uma relação diretamente
proporcional com o sexo e o erotismo. Tal cultura se deve a influência
determinante da religião que durante séculos ditou o modo de ser e agir dos
seus fiéis, em especial no que diz respeito ao comportamento sexual. Deve-se
levar em conta também, o peculiar machismo do brasileiro que sempre viu a
mulher como objeto de prazer.
A partir dos anos 70, com a abertura política este
quadro começa a alterar-se, mesmo que lentamente, possibilitando que soprassem
novos ares, e assim idéias, antes inaceitáveis como o nudismo, começam a ganhar
espaço, notadamente nos centros com maior intercâmbio com a Europa. Com o advento
da internet o naturismo brasileiro ganha novo fôlego, fortificando o movimento.
Mesmo tendo um cenário mais favorável, o naturismo
ainda não possui o reconhecimento social, o que gera situações do tipo das
ocorridas no Rio de Janeiro e Tambaba (tentativa recente de redução da área
naturista) entre outras, obrigando o movimento naturista a um constante embate
para afirmação dos seus princípios, como também a adotar uma atitude de maior
reserva em relação aos pretendentes ao convívio naturista.
Para não me alongar muito e sem querer ensinar o
pai-nosso ao vigário, encerro defendendo duas teses que acredito serem
significativas para o crescimento do naturismo no país, juntamente com as
demais políticas adotadas pelo movimento:
1)
Incentivar a maior participação das mulheres no Movimento
Entendo que a participação
feminina é da maior importância, considerando que a adesão de uma pessoa do
sexo feminino, GERALMENTE, ocorre agregada com a adesão de outras pessoas
(maridos, namorados, irmãos etc.), o que NORMALMENTE não acontece com os
homens, que GERALMENTE aderem isoladamente. Acho ainda, que a medida em
aumentar a confiança das mulheres a possibilidade de fortalecimento do
movimento é maior.
2)
Necessidade de maior reflexão e estudos sobre o naturismo
Vejo a necessidade de consolidar
um pensamento naturista brasileiro, pois são poucos os trabalhos científicos
voltados para o naturismo. A importância de se pensar o Naturismo se dá pela
necessidade de sua fundamentação, para fugir do velho bordão de que se é
naturista pela “sensação de liberdade”. Temos que pensá-lo do ponto de vista da
Psicologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Economia etc, de modo a
firmá-lo com segurança na sociedade sem correr os riscos de retrocessos, como
temos visto atualmente, pela incompreensão da sociedade.
Saudações naturistas.
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